Introdução
A tensão evidente entre a presença do sofrimento na vida humana e a fé no Deus bondoso, criou um leque de respostas com o intuito de compreender e conciliar tal relação, tanto no campo religioso como no filosófico. Em resposta a este dilema, alguns negam a realidade de Deus (ateísmo), outros negam o poder de Deus (dualismo), há aqueles que negam a bondade de Deus (satanismo, panteísmo e deísmo), existem os negam a onisciência de Deus (teísmo aberto), ou ainda negam o mal em si mesmo (budismo e hinduísmo).
Nesta presente pesquisa, apresentar-se-á três respostas dadas ao sofrimento humano. Ver-se-á que no budismo, o sofrimento é visto como ilusão que nós criamos com nossa própria mente. Para erradicá-lo, nós devemos negar sua existência. Nesse caso, Deus não está em nenhum time, já que na verdade não há nenhuma oposição. Observaremos, também, que na Teologia da Libertação, o sofrimento é fruto da grande opressão das classes dominantes. Neste caso, Deus e a igreja devem jogar no time dos menos favorecidos. Notaremos, também, que no triunfalismo pseudocristão da Igreja Universal, que sustenta um dualismo maniqueísta, com dois seres, tendo poderes quase idênticos que produzes a prosperidade (Deus) e a maldade (diabo), no qual a superação de todos os sofrimentos acontece a partir da expulsão do mal. Nesse caso, Deus joga somente no time dos crentes e nada tem a ver com o mal.
Na conclusão será apresentado o resumo da abordagem teológica-pastoral daquele que vos escreve. Nesta, observar-se-á, que há uma intima ligação entre o sofrimento humano com pecado original (queda de Adão) e atual (ídolos do coração), sem perder de vista que nada disso foge do controle soberano de Deus, que é ao mesmo tempo santo, justo, amoroso e bondoso, o qual usa o sofrimento para manifestar sua glória.
Por considerar a profundidade dos aspectos teológicos, filosóficos e práticos do presente assunto, várias questões permanecerão em aberto para futuras discussões. Todavia, espera-se que esta pesquisa ajude os cristãos a entenderem que embora não temos uma resposta teórica completa para o problema da dor humana, temos um forte encorajamento para confiar em Deus em meio aos sofrimentos inexplicáveis. E que, na verdade, como diria John Frame, este “encorajamento é tão forte que alguém teria que ser tolo para não aceitá-lo”.[1]
Budismo: O sofrimento é uma ilusão, da qual, você precisa se libertar
Antes de entrar nas águas profundas e muitas vezes turvas do problema do mal, é útil e sobre tudo necessário, fornecer algum fundo filosófico do desenvolvimento das cosmovisões para melhor entender, a razão pela qual, o budismo se tornou tão atraente no mundo oriental e ocidental. O Deísmo tinha proposto uma resposta ao sofrimento que foi muito além dos limites do cristianismo tradicional. Deus “continuou” a ser transcendente, mas “deixou” de ser imanente, consequentemente alheio a angustia humana.
O deísmo, no entanto, foi apenas um “istmo” entre os dois grandes “continentes” filosóficos (o teísmo e o naturalismo). Em outras palavras, deísmo foi apenas uma fase passageira, quase uma curiosidade intelectual. Se no teísmo Deus “era” o criador infinito, pessoal e sustentador do cosmos, e no deísmo Ele foi “minimizado” e começa a perder sua personalidade, no naturalismo Ele “perde” sua própria existência. Como resposta ao naturalismo nasce o filho tardio do deísmo que é ao mesmo tempo prematuro do naturalismo: o Niilismo. [2]
O deus do século XX gerou uma nova cosmovisão que veio de parto normal na forma de “gêmeos siameses”. Um recebeu o nome de “existencialismo ateísta” e o outro de “existencialismo ‘teísta’”. Ambos de mesma essência, mas com mentes separadas. Entretanto, o existencialismo ateísta não trouxe uma resposta racional (pois desprezou o que é objetivo), o existencialismo “teísta” foi uma “boa opção”, mas foi pouco atraente.
Assim, o pensamento ocidental existencialista, mas que ainda cheirava niilismo, deu à luz a um pessimismo angustiante. Delumeau assinala corretamente que “à religião oriental da tranquilidade (Hinduísmo e Budismo) opôs-se mais do que nunca a religião da ansiedade própria do Ocidente”.[3] Foi nesse momento que o budismo foi reavivado e apresentado como um caminho, uma saída, uma salvação. E foi assim, que o budismo passou a ser uma opção “atraente” para a solução do sofrimento humano, tanto no Oriente, como no Ocidente.
Uma vez que o budismo não é uma religião teísta, Buda não precisou se atracar com o problema teológico de precisar reconciliar o problema do sofrimento com a existência de um Deus supremo.[4] No entanto, ele foi na sua origem um sistema centrado na “resposta” prática ao problema do sofrimento. Ele foi fundado na Índia há aproximadamente 2.500 anos por Siddharta Gautama ou Sakyamuni (560–480 a.C.). Nascido como príncipe, nas colinas ao sopé do Himalaia, Sakyamuni renunciou à vida secular para buscar respostas sobre as questões fundamentais da existência humana. Quando ele se encontrou sofrendo, começou a se perguntar: “por que as pessoas adoecem, envelhecem e morrem?” Durante anos, ele praticou austeridades, submetendo-se a uma disciplina rigorosa por acreditar que o caminho da iluminação estaria no desapego aos desejos mundanos que seriam a causa dos sofrimentos da vida. Todavia, com essas práticas não conseguiu encontrar respostas.
Assim, acabou rejeitando-as e começou a dedicar-se à meditação até que finalmente chegou à iluminação, tornando-se Buda. Depois que se tornou iluminado ele anunciou suas Quatro Nobres Verdades, que constituem a essência do Budismo: “A verdade do sofrimento, a verdade da causa do sofrimento, a verdade da cessação do sofrimento e a verdade do caminho Óctuplo que conduz à cessação do sofrimento”.[5] Olharemos, mesmo que forma breve, para estas quatro verdades.
Em primeiro lugar, toda existência é sofrimento, disse Buda. Nós nascemos, vivemos e morremos em sofrimento. A vida é uma agitação incessante e sem repouso. Essa tese ganhou força e adeptos depois do filósofo Nietzsche ter proclamado a “morte” de Deus,[6] o que levou pensamento ocidental existencialista desenvolve-se num niilismo e pessimismo angustiantes, como já dissemos supra. A resposta budista foi que, este sofrimento representava, na prática, esta primeira verdade (toda existência é sofrimento) sem a existência das três demais verdades, as quais são, na cosmovisão budista, a melhor resposta para o sofrimento.[7] Para elas que nós nos voltaremos agora.
O sofrimento é causado pelo desejo (tanha, ganância ou egoísmo). Quando há uma lacuna entre o desejo e a satisfação, há sofrimento. Além disso, os infortúnios que as pessoas sofrem são os efeitos do Kamma (ou carma) negativo acumulado nos nascimentos prévios e atual. Em outras palavras, a dinâmica do sofrimento pode ser explicada por uma lei de causa e efeito. A implicação desta tese é que o carma é uma explicação da origem da vida no universo, e da própria existência deste universo. O budista e professor Roger Samuel, em um artigo publicado na revista Lotus (órgão oficial da sociedade budista no Brasil) afirma sem constrangimento que “a vida não é a criação de um Deus Criador consciente, que tivesse seu objetivo plenamente em vista, mas o resultado de uma força cega, transmitida de um ser vivo a outro”. [8] Nesse sentido o futuro está em aberto, pois “nem Deus nem Brahma podem ser os criadores da roda do Samsara; Um fenômeno vazio segue seu curso sujeito à causa e as condições”,[9] asseverou Buda. Diante disso, só a medição oferece consciência ao homem e assim o torna senhor do seu porvir e paga a dívida (uma espécie de auto expiação) do processo de “vir-a-ser constante”.
Isso nos conduz a terceira “verdade”: A cessação do anseio leva à extinção do sofrimento. Neste estado o Nirvana significa a cessação do processo de vir-a-ser. Derrotar os desejos do “eu” deve ser o maior alvo do ser humano e essa vitória é a maior glória que ele pode conquistar. Nesse sentido, Dhammapada 103-105, ensina: “Mais glorioso não é quem vence em batalha milhares de homens, mas sim, quem a si mesmo vence”.[10] Essa foi sua suposta experiência que Buda teve e que é descrita no Dhammapada, v. 153-154:[11] “Na última vigília da noite, cheio de compaixão pelos seres vivos, fixando meu espírito nas origens interdependentes e meditando acerca da ordem do dever e da sua cessação, ao sol nascente eu alcancei a iluminação suprema.”[12]
Em um dos livros clássicos sobre o budismo, “Vida: um enigma, uma joia preciosa” de Daikasu Ikeda, o autor assevera:
A pessoa que se encontra nesse estado deve fazer uso das qualidades humanas da razão e da consciência para exercer controle sobre os desejos e as emoções instintivas que fazem manifestar a avareza, a animosidade, a inveja e outros aspectos negativos. É somente assim que podemos conduzir uma existência rica, responsável e de mente ampla.[13]
Observe que as pessoas, de modo geral, tentam superar o sofrimento, aumentando a satisfação. A solução de Buda, no entanto, é diminuir o desejo ao “estágio zero”, para assim chegar a iluminação. É para este caminho, que é a quarta e última verdade, que voltaremos nossa atenção agora A cessação do desejo é obtida através do Caminho Óctuplo. Este é um caminho deve ser marcado pela retidão[14] e deve ser percorrido por toda vida. O Buda Nitiren Daishonin afirma repetidamente: “Uma vez que possui a rara sorte de ter nascido no estado de tranquilidade, o senhor deve se esforçar para alcançar um estado de vida ainda mais elevado”.[15] Para ter sucesso nessa caminhada e alcançar o Nirvana é necessário, então, “a redução do ego” ou dos desejos. Francis Story sintetiza a resposta budista ao sofrimento humano da seguinte maneira: “estas quatro verdades que, segundo o budismo, dão a chave do problema da vida, só podem ser realmente compreendidas, se vistas, face a face, num alto grau de jhana, ou seja, meditação”.[16] Estas quatro verdades, no entanto, precisam ser avaliadas criticamente. E nesta tarefa, nos dedicaremos agora.
Quando se analisa criticamente o budismo percebe-se que a resposta de Buda não é adequada e é um contrassenso. Solução sugerida de Buda é tanto inviável como inalcançável, pois, mesmo se você trabalhe muito e consiga eliminar todos os desejos, você ainda fica com um desejo final, o desejo de não ter quaisquer outros desejos. Isto é inevitável, porque se você perde de vista o desejo final, vai acabar tendo todos os outros desejos iniciais novamente.[17]
Além disso, o Budismo sugere que o ser humano deve eliminar o “eu” com seus desejos fúteis que o leva a sofrer. O modo de Buda, aqui, entender o sofrimento é um pouco semelhante ao entendimento bíblico da frustração ou da futilidade, conforme é exposta em todo livro de Eclesiastes e em Romanos 8.15-25.[18] Ele, também, estava certo ao observar que o coração do homem é uma fábrica de maus desejos, os quais, digo eu e não buda, se tornam “ídolos do seu coração”. Mas todos os desejos do “eu” são maus e, portanto, indesejáveis? A resposta é um sonoro não! Paul Tripp, não nos deixa esquecer, que pelo menos alguns dos nossos desejos são bons. No caso do cristão, há no seu coração um duelo entre os maus desejos carnais e os bons desejos espirituais (Gálatas 5). Ele é derrotado quando descansa nas necessidades do seu coração e obtém vitória quando descansa exclusivamente na zelosa graça de Deus, a qual, arranca os maus desejos e o conduz a uma vida justa e sensata (Tt. 2. 11-15). Além disso, em termos bem práticos, não ter alguns bons desejos e não fazer algo para cumpri-los, equivale a um irresponsável comportamento que conduz à uma vida de fracasso.[19]
Outro ponto que merece nossa atenção reside nas implicações do conceito de “carma”, o qual para os budistas é uma explicação do sofrimento.[20] Essa proposta de Buda procrastina a solução do conflito ad infinitum. Como observou perspicazmente Paulo Romeiro, “o verdadeiro problema, o mal em todas as suas formas, o pecado, a verdadeira causa do sofrimento e da injustiça permanece sem tratamento; não é resolvido em absoluto, apenas perpetuado indefinidamente. Uma maldade exige outra em compensação, e a outra mais outra, e assim vai.”[21]
Além disso, para Buda esta vida seria uma expiação, ou seja, o que sofremos é justo; foi merecido por nós, pois são apenas efeitos dívidas passadas. Logo, qualquer mal sofrido é necessariamente merecido! Assim, um budista coerente, que foi traído, roubado e deixado na miséria, pelo seu melhor amigo, devia ao encontra-lo dar-lhe inúmeros abraços com lágrimas de gratidão, pois ele não lhe poderia ter feito um bem maior. Se este amigo apenas é um instrumento para cobrar dívidas passadas ele não é um réu, mas sim um promotor da justiça.
Também, afirmar que o sofrimento é ilusório além de não trazer consolo, pois, evidencia falta de amor para com quem sofre, é o mesmo que dar dois passos para traz na busca da solução deste dilema. E é isso que Buda parece fazer. Ele parte do elementar, isto é, da experiência comum percebida e vivida, que há sofrimento no mundo. Sua resposta que o sofrimento é uma ilusão, no entanto, foge da realidade, pois o mal é um fato. Ele se faz presente, em suas mil feições, quer queiramos quer não. Ele é sentido e testemunhado por todos. Negá-lo, então, decretar o próprio estado de alienação, o que evidentemente não se configura como melhor solução.
A má resposta budista ao sofrimento humano, evidentimente, não é a única que circular na nação brasileira. Exitem outras, e uma delas, já entrou pelas portas da igreja catolica e já existem igreja evangélicas convidando-a também para entrar. E, é para ela que voltaremos nossa atenção agora.
Teologia da Libertação: O sofrimento é um mal que venceremos juntos.
Apesar do muro de Berlim juntamente com o comunismo mundial ter desmoronado em cima da cabeça da teologia da libertação, muitos dos seus teólogos não foram a óbito e até hoje estão ressurgindo entre os escombros. Outros já recuperados do grande tombo, estão de volta a militância, no mundo e no Brasil, tentando reavivar esta teologia, que desde então, se encontra na UTI, em coma e respirando por aparelhos.
Diante desse fato, você que ler esta pesquisa pode estar se perguntando: Por que a TL[22] foi trazida para esse debate, se seu fim parece cada vez mais próximo? Seu lugar aqui se justifica por algumas razões. Em primeiro lugar, a TL pode estar fora de moda em alguns lugares, mas ainda exerce influência no Brasil e na América Latina. Segundo, os teólogos brasileiros da libertação, sobreviventes do desastre descrito supra, continuam com a sua produção literária em mídias impressas e, sobretudo, digitais. Terceiro, a TL tem discípulos militantes na política brasileira e, como esse ano é um ano político, estudá-la ganha ainda mais relevância. Quarto, e último lugar, muitos dos pressupostos da TL são compartilhados por igrejas evangélicas, através do ecumenismo[23] ou da missão integral.
Assim, a resposta a TL é importante para a prática pastoral na sociedade brasileira. Para entendermos esta resposta, no entanto, faz-se necessário dialogar com um dos seus referenciais teóricos, o filósofo Karl Max, sobre tudo, na famosa declaração que a religião é “o ópio do povo.” O racionalismo iluminista tinha criticado a doutrina cristã das “últimas coisas” (a escatologia), afirmando ser ela destituída de qualquer fundamento concreto e a taxou de superstição primaria.[24] Feuerbach, por exemplo, disse que “céu e inferno era apenas uma projeção humana de imortalidade”.[25] Alister MCGrath, observou que Karl Marx, fez uma crítica mais balizada, e afirmou que, “a religião, de modo geral, procurava confortar aqueles que passavam por sofrimento neste mundo, ao persuadi-los com a ideia de uma vida feliz após a morte. Ao fazê-lo, a religião os desviava da tarefa de transformar o mundo, de forma a eliminar o sofrimento existente”.[26] As famosas palavras de Karl Marx neste assunto foram: “A angústia religiosa é ao mesmo tempo a expressão da dor real e o protesto contra ela. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como o é o espírito de uma situação sem espírito. É o ópio do povo”[27] (destaques meus).
Assim, a religião na visão de Marx é uma ideologia, ou seja, um sistema de ideias que se caracteriza pela representação de um mundo imaginário oposto ao mundo real de miséria em que vive a classe dos trabalhadores. Como corretamente observou o pesquisador Francisco Mota,[28] em Karl Marx “a religião ocupa, portanto, um papel sobretudo de obstáculo à uma tomada de consciência pelos homens de sua verdadeira situação, fazendo com que estes passem a se preocupar basicamente com um mundo alheio ao seu (o céu, o paraíso, o inferno, etc.) e deixem de perceber a opressão e exploração pelas quais passam aqui neste mundo (terra)”.[29]
Com Karl Marx em uma mão e a Bíblia na outra, os teólogos da libertação propuseram uma nova abordagem teológica-pastoral para a angustia do homem moderno, tentando unir “o melhor” dos dois mundos. A religião deixa o status de “ópio do povo” e assume o posto de uma fonte de libertação e de esperança para o homem no aqui e agora (terra) e não só no lá e então (céu ou paraíso). Neste sentido, na visão dos teólogos da libertação, a verdadeira espiritualidade, que conduz não apenas a anestesia do sofrimento, mas que pode trazer alívio real para a dor, exige mais que uma contemplação, requer uma ação. Nas palavras de Leonardo Boff, “a religião passa a ser um fator de mobilização e não do freio”.[30]
Assim sendo, o “Deus” que ao longo da história subiu de escada para um patamar transcendente, como visto pelos deístas, que “deixou” de ser imanente e consequentemente ficou alheio ao sofrimento humano; agora desce de elevador para regatar seu atributo de imanência e apresenta-se como agente libertador e dignificador dos sofredores da terra. Uma vez que, na perspectiva da TL, o sofrimento é fruto da grande opressão das classes dominantes. Boff não tem dúvidas que a história deve ser “vista a partir dos grupos dominados dos sem história e das ruínas deixadas pelos esclarecidos e progressistas, emerge como história do sofrimento sangrento e da culpa recalcada.”[31]
A teodiceia, também, é vista a partir de novo paradigma. Os debatedores, com as suas discursões filosóficas, saem de cena e sobe ao palco os militantes com suas ações moral-sociais práticas. Pois, como asseverou Leonardo Boff:
O mal não está aí para ser compreendido, mas para ser combatido; esta é a conclusão que se tira quando se narra a vida daqueles que ajudaram a dar sentido ao sofrimento, não discutindo sobre ele, mas combatendo-o tenazmente. Sofreram ao combater contra o sofrimento, mas seu sofrimento foi digno, gratificante e profundamente libertador.[32]
Além disso, o problema do sofrimento na TL ganha um novo diagnostico e um novo remédio. A pesquisadora Irinéia M. Franco dos Santo no seu artigo, “O Problema do Mal: abordagens sobre a Teodiceia e o Catolicismo” apresenta uma boa contribuição no entendimento do assunto ao afirmar:
O pensar em termos de fé, o problema do sofrimento para a TL, seria uma antropodicéia; mas, ao se combater esse sofrimento seria uma sociodicéia. O mal em germe estaria no egoísmo humano, mas a solução para ele, não estaria em uma mudança somente interna do indivíduo. Precisaria existir concomitantemente com mudanças nas estruturas sociais.”[33]
Assim, o sofrimento ganharia outro sentido. Deixa de ser um “castigo” por causa do pecado do homem, e se torna uma “luta por libertação.”[34] Diante disso, a TL propôs, então, uma atuação pastoral para resolver o sofrimento humano com uma ação mista: consciência política e de fé. O “Reino de Deus”, deixa de ser visto como uma realidade transcendente, distante, a ser alcançado na vida futura, para ser uma possibilidade de transformação neste mundo e desse mundo, trazendo assim alivio para dor. A TL responde ao sofrimento dizendo: “Queremos lhe dar as mãos e agir para exterminar este sofrimento aqui e agora”.[35]
Se há alguma utilidade na crítica da TL feita ao cristianismo ortodoxo, é nos lembrar de que temos o dever cristão de trabalhar pela transformação do mundo como conhecemos, e dele removendo causas desnecessárias de sofrimento.[36] A esperança cristã deve servir de estimulo e não de sedativo. Ela deve nos conduzir a ação, em vez de nos incentivar a negligência, mesmo sabendo que a solução final para dor humana se dará no último dia.[37] No entanto, a ação pastoral da proposta pelos teólogos da TL além de não ir ao encontro da dor humana, vai de encontro a revelação divina, e por isso, apresenta alguns problemas.
De início podemos observar que ela é mais uma resposta horizontal, que vertical. Mais antropocêntrica, que cristocêntrica. Em uma entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, Clodovis Boff, irmão de Leonardo Boff, o ex-teólogo da libertação[38] e agora crítico da mesma,[39] ao responder a pergunta: “Quando o senhor se tornou crítico à TL?” Afirmou: “Desde o início, sempre fui claro sobre a importância de colocar Cristo como o fundamento de toda a teologia. No discurso hegemônico da TL, no entanto, eu notava que essa fé em Cristo só aparecia em segundo plano. Mas eu reagia de forma condescendente: ‘Com o tempo, isso vai se acertar’. Não se acertou”.[40]
E de fato não se acertou, pois, os teólogos da libertação não fizeram uma “exegese” cristocêntrica das escrituras e a aplicou na sociedade, mas sim uma exegese da sociedade e a aplicou nas Escrituras. Augustus Nicodemos foi preciso em sua análise:
A grande diferença, claro, é que no sistema reformado é o Cristo atestado nas Escrituras que se constitui no ponto de partida de toda a pregação, enquanto que, na cristologia da libertação, é o Jesus histórico reconstruído através do método histórico-crítico e interpretado à luz do modelo cristológico da teologia da libertação na América Latina. Assim, enquanto Boff enfatiza a praxis, a teologia reformada diz que as Escrituras, em todos os seus atributos (necessidade, autoridade, perspicuidade e suficiência) é a pressuposição fundamental.[41]
A proposta da TL, então, não tem Cristo (como visto no teísmo) como conteúdo da sua resposta e nem a Bíblia como pressuposição fundamental de seu pensamento. A história tem mostrado que qualquer proposta pastoral que não considere o Cristo dos Evangelhos e não analise o homem a partir das Escrituras não teve e não terá êxito. Todavia, este gravíssimo erro, não é o único problema.
Ao tentar resolver o suposto problema levantado por Karl Marx, que a religião seria “ópio do povo”, os teólogos da libertação se penduraram no “já” e o puxaram com tanta força, que o pendulo do “ainda não” foi para o outro polo e o equilíbrio Bíblico se desfez. Eles trouxeram para perto de si o “já” e levaram para longe da igreja o “ainda não”. Isso, entretanto, compromete qualquer resposta pastoral para o sofrimento humano, pois a doutrina do céu dá a cada cristão uma perspectiva completamente nova sobre os seus sofrimentos e aflições do tempo presente. Por meio dela, eles compreendem que suas aflições (no “já”) é a maneira de Deus os preparar para a glória que está diante de deles (“ainda não”).
É bom lembrar também, ao desprezar a esperança cristã, taxando-a de “ópio” (um tipo de anestésico que amortece nossos sentidos, impedindo-nos de mudar o mundo para melhor) ele minimiza uma das principais fontes de consolo na vida cristã. Pois, a esperança, de fato, nos capacita a lidar melhor com o sofrimento na vida presente. Como afirmou Paulo: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm. 8.18). À luz das bênçãos eternas, suas aflições atuais podem ser vistas como pequenas e temporais, o que não oferece apenas consolo para alma, mas, e sobre tudo, esperança para vida.
No mais, Marx e consequentemente os teólogos da TL, evitam uma questão vital sobre a fé cristã em relação a vida futura: seria ela verdadeira? Se a resposta for positiva (e eu creio que é), os cristãos não podem ser criticados por tê-la. Como corretamente observou Alister McGrath: “Se a esperança que o cristão tem em relação ao céu é ilusória, se ela se baseia em mentiras, deve então ser abandonada como equivocada e enganosa. Se, porém, for verdadeira, deve ser acolhida, de modo que transforme todo o nosso entendimento sobre o lugar da dor nesta vida.”[42] Logo, a verdadeira fé cristã não é um anestésico espiritual, elaborado simplesmente com o objetivo de nos ajudar a lidar com as tristezas da vida. O “já” que encontramos em Cristo traz consigo a certeza do “ainda não”, que é a garantia e segurança, de que tudo que foi prometido será um dia levado a cabo em gloriosa consumação. Por enquanto, lutamos e sofremos em meio a tristeza permeada de perplexidade. Um dia, porém, tudo isso mudará em benefício do povo de Deus:[43]
Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Apocalipse 21:3-4).
Assim, além de não ter uma boa solução para o sofrimento, a TL minimiza um dos elementos centrais da resposta cristã à dor, a esperança da glória. Como bem disse Paulo: “se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens somos os mais dignos de compaixão” (1 Coríntios 15.19).
Triunfalismo pseudocrístão:
O sofrimento é o algo do demônio, do qual você precisa se libertar
Além das conhecidas resposta ateístas ao sofrimento humano, através dos séculos, tem havido numerosas tentativas pseudocristãs de lidar com este assunto. Uma delas que atravessou a história e se acomodou na religiosidade brasileira foi a dualista maniqueísta, a qual ganhou aqui tons supostamente cristãos. Esta tentativa de resposta sustenta um dualismo completo, com dois seres, tendo poderes quase idênticos. Um totalmente Bom, representado na figura de “Deus” e outro totalmente mal, representado na figura do maligno. A prosperidade, provém do Espírito abençoador, cuja a natureza é amorosa e bondosa. O sofrimento, provém do Espírito destruidor, cuja natureza é violenta e destrutiva. Declara-se, em alto e bom som, que as situações da vida dependem de qual “Deus” está exercendo o controle em determinado momento, local ou circunstância.
A principal voz desta cosmovisão na nação brasileira é Edir Macedo, líder da “Igreja Universal do Reino de Deus” (IURD), uma “igreja cristã”,[44] que dentro da vertente neopentecostal, é uma das maiores atualmente e a que ocupa o maior espaço na televisão brasileira. “Pare de Sofrer!” é uma temática atrativa para a resposta a angustia humana. De acordo com a doutrina ensinada pelo bispo Macedo, o cristão não deve ser atingido pelos reveses da vida, assunto, que diga-se de passagem, bastante atraente nos dias de hoje. Como corretamente observa Paulo Romeiro, muito longe da exaltação da indigência, vista na tradição católica, a retórica de Edir consiste em proclamar, em todas as mídias dos nossos dias, que o sofrimento não faz parte dos propósitos divinos. Pelo contrário: tendo criado o ser humano a sua imagem, Deus deseja distribuir riqueza, saúde e felicidade àqueles que têm fé.[45]
A voz de Edir Macedo ganhou status literário com a publicação do famoso e polêmico livro, “ORIXÁS, CABOCLOS E GUIAS: Deuses ou Demônios?”[46] Famoso, pela quantidade de respostas acadêmicas (artigos e teses) advindas das mais variadas áreas do saber.[47] Polêmico, por sua proibição e permissão de sua venda.[48] Nesta obra, Macedo afirma que todos os males que acometem as pessoas, a sociedade, a Igreja, e os cristãos individualmente, são produzidos diretamente por demônios, os quais se instalam nas vidas destas pessoas e nas estruturas sociais, políticas e econômicas.[49] Não é o propósito deste trabalho analisar de forma exaustiva a referida obra, no entanto, olhemos, mesmo que de forma breve, para a cosmovisão maniqueísta presente nela.
Macedo sem medo de errar, o que ele faz sem muito esforço, assevera: “Afirmo categoricamente que todas as pessoas possessas têm alguma enfermidade, doença ou dor”.[50] E continua: “Ao ‘descansarem’ nos corpos das pessoas, os espíritos demoníacos os contaminam, fazendo com que o sofrimento físico tome conta delas”[51] Assim, o mal, o sofrimento, o fracasso, a dor e a perda, são todos atribuídos às forças espirituais do mal. Ele não tem dúvida que a relação entre sofrimento e o espírito maligno é íntima e inseparável. Por causa disso, o exorcismo é uma prática frequente e muito divulgada. Para trazer alivio a dor das pessoas, os pastores e bispos confrontam e expulsam as entidades malignas.
E quanto o sofrimento arromba a porta da casa de um “crente”? A solução é a mesma. Juntamente com essa prática está a crença de que os crentes também podem ficar possessos por demônios precisando também de libertação. Para Macedo, até mesmo o crente que foi batizado com o Espírito Santo (segundo o conceito pentecostal de batismo como uma segunda bênção) pode sair deste estado e vir a ser possesso.[52] O título do capítulo quinze, da obra já citada, é uma pergunta retórica: Crentes endemoniados? Edir justifica-o dizendo que “este capítulo não existiria se eu não tivesse visto constantemente pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas, como se fossem macumbeiras, ao receberem a oração da fé”.[53] Ele também, rebate a posição ortodoxa, a qual afirma que o cristão não pode ficar possesso e ao mesmo tempo manda um recado para os acadêmicos: “Convém aos teólogos entenderem que toda a vida cristã é um estado sob o qual a pessoa vive. No sol causticante do deserto, aqueles que encontram uma árvore estão protegidos mas, ao saírem da sombra, se expõem novamente à ação dos raios solares. Assim acontece com quem está em Cristo”.[54] Segundo Macedo, ser cristão é um estado e não uma condição. Este estado depende do homem cristão e do que ele faz em sua vida, especialmente com relação ao pecado.
A tese de Edir Macedo diante de uma avaliação crítica biblicamente orientada mostra-se falaciosa. Fazer uma análise da possibilidade de possessão demoníaca em crente foge ao escopo deste trabalho. Por ora, daremos uma breve resposta. Wayne Grudem, chama nossa atenção para o fato que a o termo “possuir” não tem referência com nenhuma palavra encontrada no Novo Testamento grego, logo ela pode ser definida das mais diversas maneiras. Para ele se “possuído por demônios” significa que a vontade da pessoa está completamente dominada por um demônio, então a resposta certamente seria não.[55] O que dizer, ainda, dos casos comprovados e visto por Edir Macedo de crentes possuídos? O teólogo B. J. Oropeza, talvez, tenha razão em sua análise:
Alguns casos podem ser distúrbio mental, enquanto outros casos de opressão demoníaca (ataques) podem ser confundidos com possessão. Outros casos, ainda, podem ser indivíduos inseguros e de ânimo fraco fingindo estar possuídos ou se auto induzindo a acreditar que estão possuídos para ganhar atenção.[56]
O bispo, também, se contradiz no seu próprio argumento. Ora ele diz “ter visto pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas.” Ora, afirma ter presenciado pessoas serem totalmente libertadas da ação do diabo sobre suas vidas: “Os espíritos malignos, não resistindo à pressão da presença de Deus, acabam por manifestar a sua verdadeira personalidade; é aí que entramos com o poder de Deus para afastá-los definitivamente da pessoa” (destaques meus).[57] Se a libertação é definitiva a pessoa que estava supostamente endemoniada não poderia ficar novamente.
Além disso, este triunfalismo alegadamente cristão cria um grave e insolúvel problema, ao assumir que a felicidade é o status quo na vida terrena. Ao fazer isto, Macedo ignora uma verdade bíblica importante, isto é, que o mundo está debaixo da maldição do próprio Deus, e que o fato de um homem ser crente não impede que nasçam ervas daninhas em seu quintal, nem que sua esposa tenha dores de parto (Gn 3.16-18).[58]
Outro problema é que nesta dinâmica maniqueísta de guerras dos deuses e de dor/alivio ora Deus perde, ora Deus ganha. Algo incabível na visão bíblica de Deus. Além disso, nessa batalha entre o bem e o mal, Macedo dá ao diabo uma força que ele não tem e sonega o real poder que Deus possui: “O diabo tem força para estragar qualquer felicidade desde que as pessoas se submetam a ele.”[59] Este ensino do bispo Macedo pode leva, também, as pessoas a transferirem a responsabilidade de seus atos para os demônios.
Do mesmo modo, em muitos momentos, tem-se a impressão de quer o governo do mundo está divindade entre o diabo e Deus. As Escrituras, no entanto, afirmam que todos os atos humanos, inclusive os instigados pelo diabo, estão debaixo do poder e da direção exclusiva de Deus, e são usados para realizar o bem que ele intenta fazer. O reconhecimento de Jó que foi de Deus, não do diabo, que procedeu o que veio sobre ele (cf. Jó 1.21) e o dos apóstolos de que Pilatos e os judeus fizeram o que Deus decretou (At 2.23 cf 4.28; 3.18) apontam para a esta tese.
É digno de nota ainda, que a proposta de Edir Macedo além de não ajudar o cristão na dor o atrapalha na maturidade, o que aumenta ainda mais seu sofrimento. O bispo desconsidera a verdade bíblica que Deus pode enviar provações para amadurecer o crente. Nesse sentido, o ensinamento de Macedo “impede que as pessoas tenham as maiores e mais verdadeiras experiências com Deus, e nunca levará uma pessoa a um nível espiritual mais elevado”.[60] A bíblia afirma claramente que Deus usa todas as coisas, inclusive o sofrimento para o nosso crescimento.[61]
Finalmente, a resposta neopentecostal do pseudotriunfalismo cristão não produz paz longa após a trégua do sofrimento. Se a luta entre os poderes do bem e do mal, os quais são praticamente equivalentes, são constantes e infinitivas, então, não há absolutamente nenhuma esperança e garantia de que o bem que venceu hoje, triunfará sobre o mal no amanhã.
Proposta teológica-pastoral
O problema dos nossos problemas é o problema do coração, o qual tem a Cruz como solução
Segundo Dooyeweerd só existem dois tipos de motivos básicos religiosos: o revelacional criação-queda-redenção e o motivo básico da apostasia que, no decurso da história, tem assumido vários contornos, com graus maiores ou menores de afastamento da verdade.[62] Vimos até aqui três grupos que seguiram o segundo caminho e falharam na tentativa de trazer uma resposta ao sofrimento humano. Gordon Clark, tinha razão quando asseverou que, “enquanto diversas outras doutrinas se desintegraram neste ponto, o sistema conhecido como calvinismo e expresso pela Confissão de Fé de Westminster oferece uma resposta satisfatória e completamente lógica”.[63] De fato, em sua resposta ao sofrimento humano, a cosmovisão calvinista preserva a natureza de Deus e explica todas as outras coisas a partir dela. Esta, sem dúvida, tem sido provada pela história como a única abordagem correta para angustia humana, e resulta numa resposta que até pode ser questionada, mas jamais será superada. E por que podemos dizer isso com tanta convicção?
Veremos nesta última parte desta pesquisa, que a cosmovisão teísta tem a melhor resposta para as angústias do ser humano, pois entende que o problema dos problemas humanos é o problema do coração, que foi criado santo por Deus (criação), depravado na queda de Adão (queda), mas que pode ser redimido através da obra de Cristo (redenção) e na recriação divina, que chamamos Novo céu e Nova Terra, todo mal, sofrimento e dor desaparecerão por completo (consumação).
É alicerçada nestas verdades bíblicas e teológicas, que a atividade pastoral deste pesquisador que vos escreve é realizada. Entendemos que, diante de uma pessoa que sofre, tanto o aconselhamento como qualquer prática pastoral, devem considerar o fato que sofremos por causa do pecado original e atual, e que em ambos os casos a resposta é a cruz. Falemos sobre o primeiro e em seguida sobre o segundo.
O sofrimento causado pelo pecado de Adão tem uma solução divina, a cruz. Frame foi feliz em observar que “embora mereçamos a morte em suas mãos, o Deus verdadeiro sacrificou seu próprio Filho para nos trazer a vida e trazê-la em abundância.”[64] A resposta de Deus, então, não foi simplista e vinda da autoajuda, mas real e proporcionada pela ajuda vinda do alto: Jesus, aquele que se fez um de nós. O Deus-Homem resolveu o problema do sofrimento com seu próprio sofrimento. Se Buda diz como suportar o sofrimento, Cristo dispôs a sofre em nosso lugar. Ele experimentou os piores tipos de angustias e os derrotou triunfando sobre eles na cruz. Nosso Senhor, então, “não é um suposto herói de pés de barro, que exige o sofrimento alheio enquanto ele mesmo permanece distante do mundo dos que sofrem.”[65] Por isso, em Cristo Jesus, e somente nele, o ser humano se reencontra como pessoa criada segundo a imagem de Deus, destruída na queda do pecado e agora salva e renovada. Assim, o mais surpreendente não é que há mal no mundo, mas que Cristo perdoa o mal dos nossos corações.
Além disso, a angustia da nossa alma está com seus dias contados. Embora o sofrimento seja excessivo neste mundo, é confortante saber que Cristo conquistou a vitória final. No Novo Céu e na Nova Terra, não haverá morte, tristeza, sofrimento e consequentemente dor. A resplandecente cidade eterna, a nova Jerusalém, proporcionará alegria incrível aos servos de Deus, os quais desfrutarão do eterno gozo. E é por essa razão, que enquanto todas as outras cosmovisões levam a alienação ou ao desespero, a cosmovisão teísta leva a uma confortante esperança de nova vida em Cristo “aqui e agora” (pois seu reino já foi inaugurado) e “lá e então” (quando ele será consumado).
Não podemos nos esquecer, também, que sofremos por causa pecaminosidade do nosso coração. Edward T. Welch foi preciso em sua análise: “Eu sofro porque pequei. Estou grávida fora do casamento porque sai de debaixo da segurança dos mandamentos de Deus. Meus filhos me deixaram porque constantemente me provocaram e eu fui duro com eles. Estou fisicamente doente pela inveja que me consome. Meu noivo rompeu comigo devido excessos de ira. Fui demitido porque tenho sido preguiçoso.”[66] Assim, não poucas vezes, sofremos por causa da pecaminosidade do nosso coração que não se cansa de criar ídolos. De certo modo, o problema dos problemas humanos é o problema do coração, que é “uma perpétua fábrica de ídolos”, como dizia João Calvino.[67] A solução, tanto no âmbito individual como coletivo, está em procurar identificar os ídolos que os escravizam e exigem obediência, e procurar num processo de entrega, dedicação e consagração a Deus, ir renovando o homem interior, tomando a cruz diariamente, sepultando diariamente os falsos deuses que estão sendo fabricados no coração, e assim diminuir a angustia de alma causada pela idolatria.[68]
Este, talvez, é o grande diferencial do aconselhamento bíblico para uma consulta psicológica, por exemplo. A psicologia secular e humanista, parte do pressuposto de que o homem deve ser entendido como um ser contido em si mesmo, isto é, autônomo. Todas as demais conclusões sobre o indivíduo ele seguem à risca esta ideia. A visão reformada, entretanto, enxerga o homem dentro de sua real história de vida, por meio dos conceitos da criação-queda- redenção-consumação.[69] Sendo assim, a o aconselhamento cristocêntrico parte do princípio de que o homem sem Deus está totalmente perdido e sem esperança. A única solução para os problemas de sua alma está na cruz. Só em Jesus o homem pode ter a paz verdadeira, só nele encontramos respostas para os anseios e temores. O problema dos nossos problemas é o problema do coração e só Jesus é solução!
Precisamos lembrar ainda, que nenhum sofrimento na vida de um cristão é por acaso e sem propósito. Frame tinha razão ao afirmar que “Deus jamais pré-ordena um mau evento sem um bom propósito”.[70] William Craig estava certo ao nos lembrar que, muitos males ocorrem na vida que podem ser totalmente sem propósito em relação a produção da felicidade humana, mas eles não são sem propósito em relação ao conhecimento de Deus.[71] John Piper acertou quando afirmou que, satanás se vale deste sofrimento para tentar destruir a fé, no entanto, Deus dirige este sofrimento para purificar a pessoa.[72] Assim, nenhum sofrimento dos crentes nesse mundo é sem valor. José, Jó, Estevão, Paulo e qualquer outro crente que, como o Senhor, experimenta o mal neste mundo, pode ter a esperança e a certeza de que Deus está produzindo seus bons e sábios propósitos através do sofrimento de seu povo, quer ele tenha neste mundo um “final feliz”, quer não.[73] Não é sem razão que Tiago escrevendo aos perseguidos crentes da dispersão disse: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o passardes por várias provações” (Tg 1.2). Tiago afirma que as provações vão trazer perseverança aos crentes, o que por sua vez os tornará maduros na fé (Tg 1.3-4).
Chegamos ao final desta pesquisa fazendo, mais uma vez, eco das palavras de John Frame, que nós “não temos uma resposta teórica completa para o problema do mal. O que temos é um forte encorajamento para confiar em Deus em meio aos sofrimentos inexplicáveis. Na verdade, o encorajamento é tão forte que alguém teria que ser tolo para não aceitá-lo”.[74] E, é esse encorajamento, que uma prática pastoral biblicamente orientada deve produzir, seja por meio de pregações, ensinos, visitas ou aconselhamentos.
A primeira pergunta, e sua respectiva resposta, do Catecismo de Heidelberg, resume essa visão esperançosa da vida cristã de forma maravilhosa, pessoal e pastoral.[75] A pergunta é: “Qual é o único consolo tanto na vida quanto na morte?”. A resposta que soa como um alento para alma é:
O único consolo na vida e na morte é que eu, com corpo e alma, tanto na vida como na morte, não pertenço a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador Jesus Cristo, que me livrou de todo o poder do diabo, satisfazendo, inteiramente, por seu sangue precioso, por todos os meus pecados, e me guarda de tal maneira que, sem a vontade de meu Pai celestial, nem um só fio de cabelo pode cair de minha cabeça, antes é necessário que todas as coisas cooperem para minha salvação. Por isso também me assegura, por seu Espírito Santo, a vida eterna, e me faz pronto e equipado para viver diante de sua santa vontade.[76]
Nenhum busdista, nenhum teólogo da libertação, nenhum pastor do triunfalismo pseudocristão jamais apresentou este conforto. Não desfruta desta paz. Não possui essa esperança!
[1] FRAME, John M. Apologética para a glória de Deus: uma introdução. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. P. 144
[2] Para uma análise desta cosmovisão Cf. SIRE, James W. O universo ao lado: um catálogo básico sobre cosmovisão. 4. ed. São Paulo: Hagnos, 2009. pp. 109-140.
[3] DELUMEAU, Jean – O Pecado e o Medo. A culpabilização no Ocidente (séculos 13-18). EDUSC, São Paulo, 2003, p. 13 apud SANTOS, I. M. F. O Problema do Mal: abordagens sobre a Teodiceia e o Catolicismo. Disponível em https://www.academia.edu/4765576/O_problema_do_mal_abordagens_sobre_a_Teodiceia_e_o_Catolicismo. Acesso em 26 de setembro de 2014
[4] FERNANDO, Ajith. A supremacia de cristo: conhecendo o único caminho. São Paulo: Shedd Publicações, 2002, p. 193
[5] SAMUEL, Roger. Os Fundamentos do Budismo. In revista Lotus - órgão oficial da sociedade budista - Rio de Janeiro. ANO I 1975 Nº 1
[6] Cf. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. São Paulo: Martin Claret, 1996. Aforismo número 125
[7] Cf. SAMUEL, Roger. Os Fundamentos do Budismo. In revista Lotus - órgão oficial da sociedade budista - Rio de Janeiro. ANO I 1975 Nº 1
[8] SAMUEL, Roger. Os Fundamentos do Budismo. In revista Lotus - órgão oficial da sociedade budista - Rio de Janeiro. ANO I 1975 Nº 1
[9] Apud Ibid
[10] Cf. Darmapada: a doutrina budista em versos. Tradução do páli, introdução e notas de Fernando Cacciatore de Garcia. Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2010.
[11] O Dhammapada, Darmapada ou Caminho do Dharma é um escrito budista atribuído a pena de Buda. É o mais conhecido e traduzido texto budista. Compõe-se de máximas em forma de versos agrupados em 423 estrofes.
[12] Darmapada: a doutrina budista em versos. Tradução do páli, introdução e notas de Fernando Cacciatore de Garcia. Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2010.
[13] Ikeda, Daikasu. Vida, Um Enigma, uma Jóia (sic) Preciosa. Rio de Janeiro, editora Record, 1982. P. 140.
[14] Ele engloba oito elementos: compreensão correta, intenção correta, palavra correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta.
[15] Brasil Seikyo, edição no 1498, 6 de março de 1998, pág. 3
[16] Apud SAMUEL, Roger. Os Fundamentos do Budismo. In revista Lotus - órgão oficial da sociedade budista - Rio de Janeiro. ANO I 1975 Nº 1
[17] MONDITHOKA, Sudhakar. The Problem of Evil and Suffering: A Worldview Analysis. Disponível em:
www.mondithokas.com/.../The_Problem_of_Evil_and_Suffering_A_Worldview_Analysis_4.doc Acessado em 14/09/2010
[18] FERNANDO, Ajith. A supremacia de cristo: conhecendo o único caminho. São Paulo: Shedd Publicações, 2002.
[19] TRIPP, Paul David. Instrumentos nas mãos do Redentor: pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação. São Paulo: Nutra, Igreja Batista Pedras Vivas, 2009. Pp. 111-135
[20] SAMUEL, Roger. Os Fundamentos do Budismo. In revista Lotus - órgão oficial da sociedade budista - Rio de Janeiro. ANO I 1975 Nº 1
[21] Referência RINALDI, Natanael, ROMEIRO, Paulo. Desmascarando as Seitas. Rio de Janeiro: CPAD, 1996
[22] A partir daqui usaremos a sigla TL para nos referir a teologia da libertação.
[23] Veja por exemplo: SINNER, Rudolf von. Leonardo Boff: um católico protestante. Estudos Teológicos, São
Leopoldo, v. 46, n. 1, p. 152-173, 2006.
[24] McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 632
[25] Apud Ibid p. 632
[26] Ibid p. 632
[27] MARX, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Bomtempo, 2005.
[28] Mota é Professor Associado da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Pós-Doutor em Estudos Avançados de Cultura Contemporânea – UFRJ.
[29] Ibid
[30] BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da libertação. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 102
[31] Cf. BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. Petrópolis: RJ: Vozes, 1983, p. 19. Cf. também, ARAUJO, Henrique Ribeiro de. Perspectivas teológicas e respostas cristãs para o sofrimento: Uma breve análise das teologias da Esperança, da Alegria e da Libertação e suas possíveis explicações para o sofrimento. Disponível em: http://www.teologiacontemporanea.com.br/index.php?pg=dinamic-subcontent&&id=123 Acessado: 24 de setembro de 2014.
[32] Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo, Editora Paulus. Verbete Sofrimento (Leonardo Boff), pp. 786. Cf. Também, SANTOS, I. M. F. O Problema do Mal: abordagens sobre a Teodiceia e o Catolicismo. Disponível em https://www.academia.edu/4765576/O_problema_do_mal_abordagens_sobre_a_Teodiceia_e_o_Catolicismo. Acesso em 24 de setembro de 2014
[33] SANTOS, I. M. F. O Problema do Mal: abordagens sobre a Teodiceia e o Catolicismo. Disponível em https://www.academia.edu/4765576/O_problema_do_mal_abordagens_sobre_a_Teodiceia_e_o_Catolicismo. Acesso em 24 de setembro de 2014
[34] Ibid
[35] ARAUJO, Henrique Ribeiro de. Perspectivas teológicas e respostas cristãs para o sofrimento: Uma breve análise das teologias da Esperança, da Alegria e da Libertação e suas possíveis explicações para o sofrimento. Disponível em: http://www.teologiacontemporanea.com.br/index.php?pg=dinamic-subcontent&&id=123 Acessado: 24 de setembro de 2014.
[36] Cf. MCGRATH, Alister E. Apologética cristã no século XXI: ciência e arte com integridade. 1. reimpr. São Paulo: Vida, 2012. p. 196
[37] Cf. Ibid p. 196
[38]Clodovis Boff foi um dos sistematizadores da TL. Sua obra principal foi escrita em parceria com seu irmão Leonardo Boff: BOFF, Leonardo, BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação. Petrópolis: Vozes, 1986.
[39] Cf. JUNGES, Fábio césar. Método da teologia da libertação em debate: a perspectiva de Clodovis Boff. Dissertação de Mestrado. Material não publicado.
[40] Cf. Irmão de Leonardo Boff defende Bento 16 e critica Teologia da Libertação. Entrevista disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/03/1244071-essencia-da-teologia-da-libertacao-foi-defendida-pelo-papa-diz-irmao-de-leonardo-boff.shtml. Acessada em: 24 de setembro de 2014.
[41] LOPES, Augustus Nicodemus. A Hermenêutica da Teologia da Libertação: Uma Análise de Jesus Cristo Libertador, de Leonardo Boff in Fides Reformata 3/2 1980.
[42][42] MCGRATH, Alister E. Apologética cristã no século XXI: ciência e arte com integridade. 1. reimpr. São Paulo: Vida, 2012. p. 197
[43] Cf. ibid p. 197
[44] A IPB declarou publicamente na penúltima reunião do Supremo concílio que a Igreja Universal do Reino de Deus deve ser considerada como seita. Cf. Relatório da Comissão Permanente de Doutrina da IPB, disponível em: http://www.executivaipb.com.br/Atas_CE_SC/SC/SC%202010/doc31_244.pdf>. Acessado em: 25 de setembro de 2014.
[45] ROMEIRO, Paulo Rodrigues. Decepcionados com a graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. P. 14
[46] MACEDO, Bispo. Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? 10. ed. Rio de Janeiro: Universal produções, 1987
[47] Cf. por exemplo, SANTOS, Valdelice Conceição dos. O discurso de Edir Macedo no livro orixás, caboclos e guias. deuses ou demônios?: impactos e impasses no cenário religioso brasileiro. Tese de mestrado, UMESP/CIÊNCIAS DA RELIGIÃO, 2010.
[48] Cf. por exemplo, Juíza suspende venda de livro do bispo Edir Macedo; Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u115122.shtml Acessado em 25 de setembro de 2014
[49] Cf. Relatório da Comissão Permanente de Doutrina da IPB sobre a Igreja Universal do Reino de Deus. 1997. Disponível em: . Acessado em: 28 de abril de 2011.
[50] MACEDO, Bispo. Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? 10. ed. Rio de Janeiro: Universal produções, 1987. p. 68.
[51] Ibid p. 68
[52] Ibid p. 161
[53] Ibid p. 126
[54] Ibid p. 126
[55] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999, p.345.
[56] OROPEZA, B. J. 99 Perguntas sobre Anjos, Demônios e Batalha Espiritual. São Paulo, Editora Mundo
Cristão, 2000, p.134.
[57] Ibid Em outro lugar ele escreve: Em outro lugar diz que pessoas anteriormente envolvidas com o baixo empirismo depois de receberem a oração da fé “estão totalmente libertas e modificadas, cheias da presença do Espírito Santo e colaborando fielmente em nossas igrejas”.
[58] LIMA, Leandro Antônio de. Razão da esperança: teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. P. 84
[59] MACEDO, Bispo. Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? 16. ed. Rio de Janeiro: Universal produções, 1987. p.102
[60] LIMA, Leandro Antônio de. Razão da esperança: teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 85
[61] Ibid p. 85
[62] Cf. OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Philosophando coram Deo: Uma apresentação panorâmica da vida, pensamento e antecedentes intelectuais de Herman Dooyeweerd. In FIDES REFORMATA XI, Nº 2 (2006): 73-100
[63] CLARK, Gordon H. Deus e o mal. O problema resolvido. Brasília: Monergismo, 2010
[64] FRAME, John M. Apologética para a glória de Deus: uma introdução. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. P. 143
[65] MCGRATH, Alister E. Apologética cristã no século XXI: ciência e arte com integridade. 1. reimpr. São Paulo: Vida, 2012. p. 192
[66] WELCH, Edward T. Exaltar a dor? Ignorar a dor? O que fazer com o sofrimento? Coletâneas de Aconselhamento Bíblico (Volume 1)
[67] CALVINO, As Institutas, I.XI.8.
[68] POWLISON, David. Ídolos do coração & feira das vaidades: vida cristã, motivação individual e condicionamento sociológico. Brasília: Refúgio, 1996.
[69] Cf. Ibid
[70] FRAME, John M. Apologética para a glória de Deus: uma introdução. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. P. 144
[71] Cf. CRAIG, William Lane. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010. P. 95-120
[72] PIPER, John. Teologia da Alegria. SP: Shedd Publicações, 2001, p. 218.
[73] WILSON, Douglas (org.); MACARTHUR, John; SPROUL, R. C.; FRAME, John e outros. Implicações Pastorais do Teísmo Relacional. In: Eu Não Sei Mais em Quem Tenho Crido: confrontando a teologia relacional. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 164
[74] FRAME, John M. Apologética para a glória de Deus: uma introdução. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. P. 144
[75] WILSON, Douglas (org.); MACARTHUR, John; SPROUL, R. C.; FRAME, John e outros. Implicações Pastorais do Teísmo Relacional. In: Eu Não Sei Mais em Quem Tenho Crido: confrontando a teologia relacional. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 164
[76] Apud ibid p. 164